Para Iolita Campos
Cordilheiras e subúrbios
átomos coreógrafos e rasteiros
lírios e templos e seus vícios cômicos
observam tuas furta-cores
aos pés dos dias
dias de ar e de estrelas vadias.
Teus sorrisos se dão
sem piedade
verdes, amarelos, azuis, lilases...
Teus semblantes são de sol,
e são de mar
e deságuam nos olhos
das estátuas e querubins de asas pandas.
Tuas folhagens [como ponte]
indicam caminhos de árvore.
Teus tons
em ultrajante beleza
configuram bordados
de primaveras supersônicas
e tua legião de tronos e de virtudes
ofuscam
este poema de nuvem.
"A arte existe para que a realidade não nos destrua." Friedrich Nietzsche
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Anjo pálido
Para
Walnécio
Recanto
de ternura e fragilidade
seus olhos são de prata e de silencio
suas mãos de sons e de sinais
e seus braços, discoides
demais.
Puro coração tal qual um feto
branco como a névoa
frágil como o dia.
Olha-me,
e seu sorriso é de nuvem
já não há mais pão nem água
sua débil asa quebrada
as agulhas estão partidas
sua tez ensanguentada de fulgor
e o mundo inteiro gira ao seu redor
um anjo sem sombra e sem ouvidos
e suas pálpebras
adormecidas
seus olhos são de prata e de silencio
suas mãos de sons e de sinais
e seus braços, discoides
demais.
Puro coração tal qual um feto
branco como a névoa
frágil como o dia.
Olha-me,
e seu sorriso é de nuvem
já não há mais pão nem água
sua débil asa quebrada
as agulhas estão partidas
sua tez ensanguentada de fulgor
e o mundo inteiro gira ao seu redor
um anjo sem sombra e sem ouvidos
e suas pálpebras
adormecidas
Cerração
Cerram-se as pálpebras
a observar a dormência curvilínea da íris
o mundo todo se fecha, consigo.
Cerram-se as pálpebras
a observar a aranha envolta na pupila
o mundo todo se fecha, consigo.
Cerram-se as pálpebras
a observar o grito de cílios e calcanhares
o mundo todo se fecha, consigo.
Erguem-se as pálpebras
a observar a rósea flor da miséria
o mundo todo se fecha, comigo.
a observar a dormência curvilínea da íris
o mundo todo se fecha, consigo.
Cerram-se as pálpebras
a observar a aranha envolta na pupila
o mundo todo se fecha, consigo.
Cerram-se as pálpebras
a observar o grito de cílios e calcanhares
o mundo todo se fecha, consigo.
Erguem-se as pálpebras
a observar a rósea flor da miséria
o mundo todo se fecha, comigo.
Caos
palavras tortas
desconexas
faiscantes
dissonantes
ressonantes
cálidas
...
(silêncio)
suspiro
suspiros
um punhado de mágoas
e fim.
desconexas
faiscantes
dissonantes
ressonantes
cálidas
...
(silêncio)
suspiro
suspiros
um punhado de mágoas
e fim.
A sombra
imagem
um corpo disforme
caleidoscópico
um desenho fosco
disforme
um corpo
tosco
cândido
frívolo
vil
um corpo
disforme
e fazia-se ponte, e pedra, e névoa
e coisa nenhuma.
um corpo disforme
caleidoscópico
um desenho fosco
disforme
um corpo
tosco
cândido
frívolo
vil
um corpo
disforme
e fazia-se ponte, e pedra, e névoa
e coisa nenhuma.
Autobiografia
Sou pó.
Matéria dispersa na imensidade do inacabado
Substância oca...
Do sopro
Do nada.
Jactâncias? (risos)
Tolice.
Pulvis est!
(et in pulverem reverteris)
Matéria dispersa na imensidade do inacabado
Substância oca...
Do sopro
Do nada.
Jactâncias? (risos)
Tolice.
Pulvis est!
(et in pulverem reverteris)
Casa Inabitada
Para Virgínia Cellestte
Pelas frestas do sobrado empoeirado
Noctâmbulas palavras gritam surdamente
Na suntuosa morada das traças.
Recônditos solilóquios permeiam o eco sutil
de contos e cantos esquecidos da esquálida memória
dos transeuntes ruidosos de um recanto inabitado.
Sombras rondam o nobre intelecto preso
às estalactites de um discurso trepido
no mistério mórfico da inspiração.
Passos apressados recolhem-se num silêncio de morte
Buscando no cáustico escuro de um vão
Excelsos versos em papéis timbrados.
Estrondoso ruído rompe a atmosfera adormecida.
É dia.
E já não há mais silêncio.
Pelas frestas do sobrado empoeirado
Noctâmbulas palavras gritam surdamente
Na suntuosa morada das traças.
Recônditos solilóquios permeiam o eco sutil
de contos e cantos esquecidos da esquálida memória
dos transeuntes ruidosos de um recanto inabitado.
Sombras rondam o nobre intelecto preso
às estalactites de um discurso trepido
no mistério mórfico da inspiração.
Passos apressados recolhem-se num silêncio de morte
Buscando no cáustico escuro de um vão
Excelsos versos em papéis timbrados.
Estrondoso ruído rompe a atmosfera adormecida.
É dia.
E já não há mais silêncio.
Elegia
Para meu pai
Valsa melodiosa em meu peito canta
Envolta no palpitar trêmulo desta lembrança
Doces recordações em sinfônica brisa
Achegam-se à alma pueril de outrora criança.
Ternos acalantos revestiam noites assustadas
Embalada no tênue aconchego de mãos cansadas
Um espelho quebrado reflete prófugas venturas
Latente doçura entre pálidos afagos.
Nos mirrados campos celestes, hei-lo que avisto
Em abstratas vibrações, aves revoantes contornam o vazio
Vertiginoso silêncio inunda-me as pálpebras
Rija ligadura é rompida no mistério da inexistência
Num expiro é levado o meu derradeiro alento
O prumo, o último resquício de mim...
Nada mais resta senão...
Um tísico suspiro de saudade.
Valsa melodiosa em meu peito canta
Envolta no palpitar trêmulo desta lembrança
Doces recordações em sinfônica brisa
Achegam-se à alma pueril de outrora criança.
Ternos acalantos revestiam noites assustadas
Embalada no tênue aconchego de mãos cansadas
Um espelho quebrado reflete prófugas venturas
Latente doçura entre pálidos afagos.
Nos mirrados campos celestes, hei-lo que avisto
Em abstratas vibrações, aves revoantes contornam o vazio
Vertiginoso silêncio inunda-me as pálpebras
Rija ligadura é rompida no mistério da inexistência
Num expiro é levado o meu derradeiro alento
O prumo, o último resquício de mim...
Nada mais resta senão...
Um tísico suspiro de saudade.
Acalanto
Para Alana Torquato
Anjo de asas translúcidas
terrena criatura, contudo divina
nascida de imáculas imagens de quimeras perdidas
de ecos quase sombrios, quase desertos
acalmando possíveis resquícios de turbulências ocas
de imagens tristonhas num canto da vida
existências pretéritas, afago presente
deveras!
Presente se faz em forma sentida, palpável, mística
em forma serena e confortante e enigmática
sintonia que aquece, ternura.
Tangível frescor onde palavras se fazem
ecos
indefinível textura
de asas perdidas
perdidas em encanto.
Anjo de asas translúcidas
terrena criatura, contudo divina
nascida de imáculas imagens de quimeras perdidas
de ecos quase sombrios, quase desertos
acalmando possíveis resquícios de turbulências ocas
de imagens tristonhas num canto da vida
existências pretéritas, afago presente
deveras!
Presente se faz em forma sentida, palpável, mística
em forma serena e confortante e enigmática
sintonia que aquece, ternura.
Tangível frescor onde palavras se fazem
ecos
indefinível textura
de asas perdidas
perdidas em encanto.
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