Breve dormir egípcio
por séculos parados
cristalino é o sigilo do espelho
de um vulto em mármore
Fantasmas calcinados contemplam,
inertes, a silente sabedoria pétrea
de uma face a muito distante
perdida
transfigurada à golpes
de tempo.
Só o tempo contorna uma imagem bela.
Pósteros dirão que imagem não comunica.
Procede.
A vida é uma bailarina.
Até quem arde em gélida moldura
transpira no ir e vir
das belezas frias
E quando o compasso dos dias
em trejeitos solenes
contemplar o semblante das esculturas
com fios de tempo
a Gioconda transbordará em risos
cristalinos
como é o sigilo do espelho
de um vulto em mármore
por séculos parados
em breve dormir egípcio.
Sábios dirão que a imagem dói.
Dói a imagem.