"A arte existe para que a realidade não nos destrua." Friedrich Nietzsche



terça-feira, 24 de maio de 2011

Dos discursos pétreos



Breve dormir egípcio
por séculos parados
cristalino é o sigilo do espelho
de um vulto em mármore

Fantasmas calcinados contemplam,
inertes, a silente sabedoria pétrea
de uma face a muito distante
perdida
transfigurada à golpes
de tempo.
Só o tempo contorna uma imagem bela.

Pósteros dirão que imagem não comunica.
Procede.

A vida é uma bailarina.
Até quem arde em gélida moldura
transpira no ir e vir
das belezas frias

E quando o compasso dos dias
em trejeitos solenes
contemplar o semblante das esculturas
com fios de tempo
a Gioconda transbordará em risos
cristalinos
como é o sigilo do espelho
de um vulto em mármore
por séculos parados
em breve dormir egípcio.

Sábios dirão que a imagem dói.
Dói a imagem.

sábado, 21 de maio de 2011

Na noite da alma uma estrela descansa

                                                                                        
                                                                                              Para F. S.
Flor é sumo-
mistério
rebentá-la só contemplam pássaros
quando distantes.
Quando celestes, tremeluzem pequenas
serenas carícias celestes
quando flor.
Quando Helenas, cheiram a orvalhos
acordados, bêbados.
Quando mantras
recordam em eco
o coro das nuvens
de arpas e liras
seus longes
suas margens.
Quando estrela, não irradia
silencia
no ser e dorme
na alma
da última pétala
vazia.
Toda flor é tímida.